Seguimos nesta semana conhecendo um pouco mais dxs historiadores formadxs no curso de História - América Latina da UNILA. Hoje, publicamos entrevista realizada em 29 de março deste ano com Bruno Lujan da Silva. Nossas entrevistas são ótimas chances de conhecer melhor o curso de História da UNILA pelo olhar de quem o vivenciou, e saber mais sobre a experiência de estudar em Foz do Iguaçu e se formar em História na UNILA. Hoje, temos a visão do Bruno, nascido e criado em Foz e estudante das primeiras turmas do nosso curso.
Bruno,
muito obrigado por nos conceder esta entrevista. Inicialmente gostaríamos que
você se apresentasse aos nossos leitores e leitoras.
Bruno
Lujan da Silva: Olá. Meu nome é
Bruno Lujan da Silva, sou nascido em Foz do Iguaçu. Meu pai nasceu em uma
cidade pequena no Paraná chamada Lidianópolis e veio para Foz em busca de
oportunidades de trabalho. Já minha mãe nasceu no Paraguai, sendo registrada no
Brasil pelo meu avô, que veio da Espanha para o Brasil com quatorze anos. Meu
avô transitou bastante pela fronteira, vivendo em ambos os países durante a
criação de seus filhos. Vive hoje no Brasil, mas com parentes no Paraguai.
O
que te levou a cursar História-América Latina na UNILA?
Encerrei
o ensino médio sabendo pouquíssimo sobre o ensino superior em geral.
Basicamente eu sabia uma coisa: tinha uma opção gratuita em Foz, a UNIOESTE1.
As outras eram faculdades particulares. Aí se deu o primeiro impasse, pois apenas
uma particular me ofereceria a graduação de História, e eu já havia decidido
que queria estudar em uma universidade pública. Quando surgiu na UNILA a
possibilidade de cursar História e Direitos Humanos na América Latina,2
eu não pensei duas vezes. Havia acabado de me matricular em Contabilidade pela
UNIOESTE, mas cancelei assim que vi a proposta da UNILA.
Muitos
estudantes de História costumam relatar impactos no curso ao se depararem com
algo bem diferente do que conheciam ou acreditavam. Você teria algum exemplo
para dividir conosco?
Com
certeza, houve muitos momentos impactantes. O primeiro de que me recordo foi
estudar mais a fundo o processo de colonização da América Latina. Perceber o
violento processo de colonização e estudar as civilizações e povos que já
viviam aqui me fizeram pensar sobre a humanidade de uma maneira geral. Já havia
estudado as duas grandes guerras no ensino médio. O processo de colonização da
América Latina foi um momento histórico tão violento quanto as guerras
mundiais, a meu ver. Foi impactante inclusive perceber que o Brasil fazia parte
da América Latina. Até então nunca havia pensado na relação do Brasil com os
seus vizinhos hispanófonos. O Paraguai era o Paraguai, a Argentina era a Argentina.
Para mim, eram dois países vizinhos que compartilhavam um idioma e era só isso.
Como
o curso contribuiu para aprofundar ou mudar o seu conhecimento sobre a América
Latina? Como foi o convívio e o aprendizado com professores e estudantes de
outros países?
Estudar
a colonização europeia na América Latina me impactou, abriu meus olhos para a
existência da América Latina. Eu já havia estudado e visto na cultura pop sobre
os maias, por exemplo. No entanto, só na UNILA compreendi a dimensão da
história dos maias para além do seu famoso calendário.
Sobre
a integração, talvez por conviver com minha bisavó que falava um “portunhol salvaje”,
como diria a professora Maria Eta3, ou por ter feito um curso de
espanhol e me interessar muito pelo idioma, foi fácil transpor essa primeira
barreira que é o idioma. Já para meus colegas, foi dificílimo, e eu achava tudo
isso engraçado. Paulistas que nunca haviam escutado uma música em espanhol
tiveram um grande choque. Talvez por estudar e trabalhar, ou por timidez, não
consegui fazer muitos amigos hispanoparlantes. No entanto, sempre que podia,
falava com eles e os ajudava a entender o português, cada um falando no idioma
do outro e assim melhorava meu espanhol. Uma amiga que me marcou entre muitas
foi a Silvina, uruguaia inteligentíssima, assim como outrxs colegxs uruguaixs
que mostraram uma disciplina acima da média, fazendo a gente pensar sobre as
lacunas de nosso ensino básico no Brasil.
Capa do livro Mitologia dos Orixás, do sociólogo Reginaldo
Prandi. Disponível em: http://reginaldoprandi.fflch.usp.br/mitologia_dos_orixas.
Acesso em: 15/04/2021
O
que você pesquisou na monografia de conclusão? Para você, o que foi mais
surpreendente na pesquisa?
Eu
estudei a trajetória de uma família de santo em Foz do Iguaçu, o Ilê Asé Oju
Ogún Funmilayó. Analisei a resistência contra a intolerância religiosa sofrida
por esta comunidade na fronteira. Acredito que minha pesquisa, principalmente
por meio da história oral, contribuiu para registrar parte da trajetória desta
família, bem como para incitar reflexões sobre a convergência entre racismo e
intolerância religiosa na região. A Mãe de Santo Marina Turinê, bem como toda
sua família, são um grande exemplo de luta e resistência contra o racismo em
suas mais variadas formas. Fiquei muito feliz de por meio da minha pesquisa
conhecer uma figura tão importante quanto a Mãe Marina. Ela faleceu
recentemente, no dia 12/03/2021. O município de Foz decretou 3 dias de luto
pela perda da Yalorixá.4
Defesa do TCC de Bruno Lujan da Silva, em outubro de 2017. Ao
centro, Mãe Marina Turinê e Bruno Lujan da Silva.
Foto: Mirian S. R. de Oliveira, 20/10/2021.
Apesar
de atualmente você não trabalhar na área de História, a formação como
historiador já te ajudou ou te ajuda no trabalho?
Eu
já trabalhava durante a graduação, e continuo a exercer a mesma profissão, a de
entregador de alimentos. Apesar de ter feito o bacharelado em História, meu
objetivo sempre foi lecionar, principalmente para o ensino médio. Quando me
matriculei na UNILA, o curso de História tinha apenas a opção de bacharelado.
Hoje não moro mais em Foz. Optei então por fazer um aproveitamento de
disciplinas e estou terminando uma segunda graduação em História, dessa vez à
distância e na modalidade licenciatura. Acredito que vou utilizar ainda mais os
conhecimentos quando puder ser professor. Entretanto, devo dizer que a UNILA
contribuiu para minha formação também em uma dimensão humana, afetiva. Isso
sempre impacta positivamente o meu cotidiano, e como tal, minha atividade
profissional.
Notas:
1
Universidade
Estadual do Oeste do Paraná.
2
Quando
foi criado, o bacharelado em História da UNILA tinha ênfase em Direitos
Humanos.
3
Maria
Eta Vieira é professora de espanhol e português da UNILA.
4
SILVA, Bruno Lujan da. Yalorixá Marina: A Trajetória De Uma
Família De Santo Na Tríplice Fronteira. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em História – América Latina) – Universidade Federal da Integração
Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2017. Disponível em: <https://dspace.unila.edu.br/handle/123456789/3849;jsessionid=58E310F0F2F735F8BBF4F6C5576B3BF9>.
Acesso em: 29 mar. 2021.