Pular para o conteúdo principal

Historiadorxs formadxs na UNILA: entrevista com Jéssica Lima Bonfim

Publicamos hoje no Blog de História da UNILA entrevista com Jéssica Lima Bonfim, historiadora formada em 2019 no curso de História - América Latina da UNILA. Jéssica nos conta suas experiências no curso e fala sobre sua pesquisa de monografia, que envolveu história oral e buscas nos arquivos de imigração da Argentina. Boa leitura a todxs!


Jéssica, muito obrigada por nos conceder esta entrevista. Inicialmente, gostaríamos de pedir que você se apresentasse aos nossos leitores e leitoras.

Jéssica Lima Bonfim: Olá! Eu me chamo Jéssica Lima e sou formada em História - América Latina na UNILA. Em dois momentos fiz entrada no curso. A primeira, em 2011, e a segunda, em 2016. Na última, concluí a graduação aproveitando estudos, em agosto de 2019.

Nasci em Brasília, mas toda minha família veio do Nordeste na época da construção da cidade. Quando estava por finalizar o ensino médio, busquei as opções existentes para ingressar numa universidade pública ou conseguir uma bolsa de estudos em universidades privadas.

Conheci a UNILA por meio de um amigo que tinha outros amigos em comum, que estudavam na UNB, que era naquele momento meu maior objetivo. Depois de perceber que seria complicado estudar numa universidade pública e também trabalhar, a UNILA se tornou uma boa alternativa, já que nesse primeiro ingresso eu poderia, por estar em outra cidade, solicitar assistência [estudantil].

Alguns anos mais tarde, quando falei desses motivos para alguns amigos que buscaram a UNILA pelo projeto [pedagógico e de integração] que ela tinha, muitos se assustaram por eu não saber mesmo desses propósitos. Conheci a Universidade somente quando já tinha me mudado para Foz do Iguaçu.

O que te levou a cursar História-América Latina na UNILA?

Eu sempre falava para minha mãe que seria professora. Acredito hoje que ela foi quem mais alimentou esse desejo, pois me iniciou nos estudos formais muito cedo.

Ainda no segundo ano do ensino médio, eu prestei vestibular para Letras - Português. Era o que eu tinha certeza que faria. No terceiro ano, mudei de colégio e tive um professor de História que foi quem finalmente me fez ter algum interesse na disciplina.

Lembro que perguntei a ele o que eu precisava fazer para cursar História. Ele me disse que tinha que gostar de viajar. Naquele momento, pareceu-me impossível a ideia de viajar, já que eu nunca tinha saído de Brasília.

Acabou que foi esse professor quem me ensinou que História não é só fazer resumo do livro didático e isso foi o suficiente para me interessar pela disciplina – que, por sinal, era a matéria em que me saía pior.

Muitos estudantes de História costumam relatar impactos no curso ao se depararem com algo bem diferente do que conheciam ou acreditavam. Você teria algum exemplo para dividir conosco?

Os conteúdos dos nossos estudos sempre me impactaram, basicamente tudo era novo para mim. Mas o que realmente me impactou no cotidiano do curso foram os ritmos de leitura. Eu não estava acostumada a ler tanto e assimilar tanta coisa nova em tão pouco tempo. Não estava, com meus 18 anos, preparada emocionalmente para o impacto de sair de casa, de me sustentar, lidar com novas informações e ao mesmo tempo com pessoas que tinham experiências de vida tão distantes da minha realidade.

Acervo do Museo de la Inmigración – MUNTREF, em Buenos Aires. Imagem disponível em: <https://turismo.buenosaires.gob.ar/es/otros-establecimientos/museo-de-la-inmigraci%C3%B3n-muntref > Acesso em: 29/06/2021

Como o curso contribuiu para aprofundar ou mudar o seu conhecimento sobre a América Latina? Como foi o convívio e o aprendizado com professores e estudantes de outros países?

Eu não conhecia a grade de disciplinas dos currículos tradicionais quando entrei na UNILA. Foi nas discussões que participei nos colegiados do curso e nas reformulações do nosso currículo que passei a me interessar pela proposta de estudar história da América Latina fora da linha de progresso construída pelo ocidente. A maior contribuição foi observar que, tanto nos meus estudos como na minha vida pessoal, houve uma revalorização das nossas identificações, das nossas histórias e do modo como as fazemos.

Ponto relevante para a minha mudança de perspectiva se deu nos projetos de extensão em que estivemos envolvidos, em especial no ano que frequentamos a comunidade dos Avá-guarani. Nesse local, a que fomos para ensinar instrumentos e teatro, acabamos sendo ensinados.

Além disso, a convivência com estudantes e professores de outros países e grupos étnicos me fez repensar o que é “ser brasileiro” e como estamos divididos nos territórios. Em especial, no início da graduação quando me interessei pelos grupos de estudos sobre Argentina e Paraguai com o professor Paulo Renato da Silva; mais tarde, quando decidi estudar migração a partir das disciplinas de [História da] Ásia com a professora Mirian Oliveira e, por fim, por toda convivência que tive na minha pesquisa com os argentinos Marcelo Villena [professor do curso de Música] e Sofia.

Imagens do evento Buenos Aires Celebra, com destaque para a Coletividade Bielorussa da capital argentina. Disponível em: < https://es.wikipedia.org/wiki/Inmigraci%C3%B3n_bielorrusa_en_Argentina#/media/Archivo:Colectividad_Bielorrusa_de_Argentina.jpg > Acesso em: 29/06/2021

Na monografia de conclusão de curso você analisou a trajetória de imigração de uma mulher russa à América do Sul. Para você, o que foi mais surpreendente na pesquisa?

O objetivo foi enfatizar que, por meio da história oral, poderíamos questionar noções de espaço e pertencimento dos imigrantes, seguindo a trajetória deles e contextualizando seu período [de vida]. O caso da nossa entrevistada, porém, foi mais que interessante por nos desafiar a analisar a recomposição de fronteiras marítimas e terrestres; os processos legais e burocráticos dessa movimentação e a elaboração de fontes por meio da memória transmitida oralmente.

Dois momentos me surpreenderam durante a investigação. No âmbito da pesquisa, foi o envolvimento afetivo para com a memória de outras pessoas. No âmbito pessoal, foi fazer a viagem de campo para a Argentina e ter acesso aos documentos do Arquivo Nacional e do Museu do Imigrante.

Atualmente, qual a sua ocupação? Se não for na área de História, a formação como historiadora já te ajudou ou te ajuda no trabalho?

Atualmente não trabalho na área de História, apesar de que seria impossível dizer que não analiso e penso quase tudo historicamente, até minha própria trajetória. Quando terminei a graduação, voltei para minha cidade e concluí as disciplinas para obter a licenciatura em História. Trabalho com óptica e estudo para o concurso da secretaria de educação do Distrito Federal.

 

Referências:

BONFIM, J. L. Trajetória de uma imigrante russa para a Argentina: contribuições da memória individual para a historiografia, 2019. pp. 1-65. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em História – América Latina) – Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2019. Disponível em: <http://dspace.unila.edu.br/123456789/5865>

 

Entrevista com Jéssica Lima Bonfim, realizada em 31 de maio de 2021, por e-mail

Postagens mais visitadas deste blog

A perspectiva na pintura renascentista.

Outra característica da pintura renascentista é o aprimoramento da perspectiva. Vejamos como a Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais se refere ao tema: “Técnica de representação do espaço tridimensional numa superfície plana, de modo que a imagem obtida se aproxime daquela que se apresenta à visão. Na história da arte, o termo é empregado de modo geral para designar os mais variados tipos de representação da profundidade espacial. Os desenvolvimentos da ótica acompanham a Antigüidade e a Idade Média, ainda que eles não se apliquem, nesses contextos, à representação artística. É no   renascimento   que a pesquisa científica da visão dá lugar a uma ciência da representação, alterando de modo radical o desenho, a pintura e a arquitetura. As conquistas da geometria e da ótica ensinam a projetar objetos em profundidade pela convergência de linhas aparentemente paralelas em um único ponto de fuga. A perspectiva, matematicamente fundamentada, desenvolve-se na Itália dos séculos XV e

"Progresso Americano" (1872), de John Gast.

Progresso Americano (1872), de John Gast, é uma alegoria do “Destino Manifesto”. A obra representa bem o papel que parte da sociedade norte-americana acredita ter no mundo, o de levar a “democracia” e o “progresso” para outros povos, o que foi e ainda é usado para justificar interferências e invasões dos Estados Unidos em outros países. Na pintura, existe um contraste entre “luz” e “sombra”. A “luz” é representada por elementos como o telégrafo, a navegação, o trem, o comércio, a agricultura e a propriedade privada (como indica a pequena cerca em torno da plantação, no canto inferior direito). A “sombra”, por sua vez, é relacionada aos indígenas e animais selvagens. O quadro “se movimenta” da direita para a esquerda do observador, uma clara referência à “Marcha para o Oeste” que marcou os Estados Unidos no século XIX. Prof. Paulo Renato da Silva. Professores em greve!