No texto intitulado “El clima de la historia: quatro tesis”, Dipesh Chakrabarty (2019) desenvolveu quatro teses para explicar a crise planetária do câmbio climático e o aquecimento global. Para ele, o risco ambiental gerado pelo aquecimento global se relaciona diretamente com a acumulação excessiva de gases de efeito estufa que envenena a atmosfera e é produzido majoritariamente pela queima de combustível fóssil e uso industrial de animais pelos seres humanos. Portanto, para o autor todas essas coisas são consequência do nascimento da modernidade. Chakrabarty é um historiador que aborda a questão do aquecimento global numa perspectiva histórica para educar o público em geral.
Usina de Itaipu em construção
Disponível em: https://www.comboiguassu.com.br/08-fatos-historicos-sobre-a-usina-hidreletrica-de-itaipu/ Acesso em: 02/02/2024
Chakrabarty inicia sua análise ao explicar que a mudança climática implica o colapso da antiga distinção humanista entre história natural e história humana. Apontando que, os filósofos e historiadores mostram frequentemente uma tendência consciente a separação da história humana da história natural. Essa ideia sustentou que os seres humanos deveriam preocupar-se somente pelos conhecimentos relativos às instituições cívicas e políticas porque são criações humanas, porém a natureza nos lembra o trabalho de Deus, que não faz parte do domínio do homem. Podemos relacionar este fato, com a construção da barragem hidrelétrica de Itaipu, tal construção que foi encarada como uma das maiores obras humanas em seu tempo, demonstra como o ser humano interpreta sua realidade a dissociando do mundo natural, onde, o que vale são suas vontades e intenções, já os danos e desastres que estas vontades podem causar ao ambiente em que está não são levados em consideração, por entender que a natureza é algo divino e se auto-restabelece.
Neste cenário percebemos como por muito tempo até mesmo, e sobretudo, a produção acadêmica, ignorou as discussões críticas a partir de uma perspectiva ambiental e deteve seu foco em um humanismo desenfreado. Somente depois do pensamento histórico estritamente materialista surgir é que a História Ambiental começou a ser um objeto de estudo “relevante” e importante para as produções científicas. Este processo possibilitou que os seres humanos fossem interpretados como agentes geológicos e biológicos. Através do pensamento da história ambiental, os seres humanos são considerados como força da natureza num sentido geológico. Tal efeito nos possibilita olhar para a região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai como personificação deste processo, onde podemos observar que a natureza torna-se uma mercadoria, e falsas propostas de sustentabilidade e preservação são utilizadas para fins lucrativos. É neste cerne que a modernidade e o processo exploratório do capitalismo, deixa seu aspecto devastador, para assumir um outro papel, o de preservador, todavia, com o intuito de atingir lucros mais enviesados, já que o lema de preservação e História Ambiental está em alta nas discussões mundiais. Isto é o Capitalismo Verde, ou, ecocapitalismo se aperfeiçoando na tríplice fronteira.(BORILE, 2022)
Dipesh Chakrabarty continua sua análise ao desenvolver mais sobre o conceito de Antropoceno, que sinteticamente diz respeito a uma era geológica onde o ser humano, por suas inúmeras relações exploratórias e devastadoras alterou as dinâmicas naturais da Terra, provocando diversos problemas, como extinções de espécies, doenças e outros fatores. Isso nos interessa, ao pensarmos como as relações com a natureza se estabelecem na região de Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu e Ciudad del Este, pois, por mais que tenhamos nesta região aspectos naturais tão importantes como o rio Paraná, as Cataratas do Iguaçu e até mesmo o Aquífero Guarani, ainda nos relacionamos com estes ambientes e locais numa perspectiva exploratória de consumo, o que perpetua com que o Antropoceno siga sendo um período geológico devastador, que, não acabará com o Mundo, mas sim, com o próprio ser humano.
A problemática da globalização permite enxergar a mudança climática como uma crise de má gestão capitalista. Desse modo, a mudança climática tem a ver profundamente com a história do capitalismo. Além disso, os humanos como espécie que depende de outras espécies para existir. Muitos intelectuais estudam os seres humanos em relação com a crise da mudança climática e com outros problemas ecológicos que surgiram globalmente, uma distinção entre história do ser humano e sua história profunda, destacando que a crítica do capital não é suficiente para abordar as questões relativas à história humana. Para uma análise exaustiva da crise da mudança climática, temos que pensar os registros simultaneamente, as cronologias dahistória do capital e da história das espécies. Assim, esta combinação permitiria uma compreensão fundamental da ideia histórica.
Em consideração final, o artigo nos ajuda a compreender a realidade da tríplice fronteira, que promove um discurso relativo à modernidade e progresso. Foz do Iguaçu caracteriza-se como uma cidade turística, que contém a maior barragem hidrelétrica do mundo e tantos outros lugares atrativos. sabe-se que a região da tríplice fronteira tem a Mata Atlântica e um dos maiores rios da América do sul, que é o rio Paraná. Então pode-se ver como o projeto desenvolvimentista do capitalismo que acompanha o discurso do progresso e moderno, faz parte da crise de mudança climática cujo texto de Chakrabarty analisou nas suas teses.
Referências:
BORILE, G., da Rocha, J., & Munhoz Olea, P. ECOCAPITALISMO, CAPITALISMO VERDE E A DIMENSÃO ECOLÓGICA DA ESFERA ECONÔMICA: PROJETO, FALÁCIA OU NADA DISSO?. Amazon’s Research and Environmental Law, 7(1), 27-43. 2022.
CHAKRABARTY, Dipesh. El clima de la Historia: Cuatro tesis. Utopía y praxis latinoamericana, v. 24, n. 84, p. 90-118, 2019.
Mackenson Beauvais, discente do curso de História Licenciatura na UNILA
Revisão: Rosangela de Jesus Silva, professora do curso de História da UNILA