O Brasil tem à sua vasta diversidade de biomas, cada um deles com características únicas e fundamentais na preservação da biodiversidade e dos recursos naturais. Um dos biomas mais notáveis do país é a Mata Atlântica, que se estende por uma vasta área, abrangendo 15 estados da federação. Este bioma engloba totalmente ou parcialmente todos os estados litorâneos do Brasil, desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Além disso, estende-se pelos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.
A Mata Atlântica é uma paisagem de beleza incomparável, caracterizada por sua exuberante diversidade de flora e fauna. Nela, encontramos uma miríade de espécies vegetais, incluindo árvores majestosas, orquídeas raras e uma riqueza de plantas medicinais. Quanto à fauna, a Mata Atlântica abriga uma impressionante variedade de animais, desde a jaguatirica até o mico-leão-dourado, todos adaptados às suas condições únicas.
Todavia, o aspecto mais interessante que podemos ressaltar sobre a Mata Atlântica é que esta não acaba nas margens fronteiriças do território nacional brasileiro, o que parece óbvio, mas muitas vezes não é. Este bioma tão importante para as questões ambientais e históricas é compartilhado com outros dois principais países, o Paraguai e a Argentina, os quais reverberam uma partilha de mecanismos de manutenção do que ainda resta da Mata Atlântica, um exemplo disso é o Parque Nacional do Iguaçu.
Tal dinâmica de preservação da Mata Atlântica e de seu processo de limitação a partir das fronteiras se relaciona diretamente ao processo histórico de colonização, mas sobretudo a um processo mais pertinente ao século XIX, o qual, temos as formações dos Estados Nacionais e a criação de fronteiras, que por sua vez causa uma série de questionamentos e problemas geopolíticos. A definição de fronteira apresentada por Lindomar Albuquerque no trecho a seguir, nos direciona para uma discussão bastante interessante. Ele cita que:
A região de fronteiras é também representada como um lugar perigoso, espaço da ilegalidade, da contravenção e da violência. Muitas fronteiras são vistas como lugares marginais, “terra de ninguém” ou “terra sem lei”. Os Estados modernos se fundamentaram em guerras de expansão, de defesa territorial e na luta pela monopolização da força, da lei e da economia legalizada em um território claramente definido. As regiões de fronteira se tornaram em espaços territoriais e sociais bastante sensíveis e difíceis de serem controlados. A fronteira territorial é geralmente uma zona em que as forças repressoras e fiscalizadoras do Estado têm dificuldade em exercer o monopólio das armas e das leis. Essa falta de controle dos espaços fronteiriços favorece a construção da imagem da fronteira como terra de ninguém.(ALBUQUERQUE, 2005, p.48)
Entretanto, quando o assunto é a defesa dos recursos naturais e da fonte de extração de riqueza a partir de matéria-prima contra outros países estrangeiros que não são da região, essa “fronteira terra de ninguém” deixa de existir e os programas de preservação e proteção ao bioma são proclamados com a ajuda de todos aqueles que se interagem com o bioma. Isto é possível ver no próprio caso Foz do Iguaçu, Ciudad del este, e Puerto Iguazu, onde, o Mercosul tem como um de seus temas de importância o meio ambiente, principalmente sobre a Mata Atlântica, já que aqui está localizado o tão importante Aquífero Guaraní.
Entretanto, mesmo que o Meio Ambiente seja um tema importante e fundamental para a mudança da relação existente entre países fronteiriços, o desmatamento desenfreado para a expansão de cidades e atividades agrícolas exerceu pressão constante sobre a Mata Atlântica. É importante reconhecer que até mesmo os povos indígenas que habitavam essa região antes da colonização europeia também tiveram um impacto no desmatamento, embora em menor escala em comparação com as atividades posteriores. Houve impactos das práticas agrícolas dos indígenas tidas como “inofensivas”, as quais por meio de repetidas queimadas, converteram áreas a de floresta primária em regiões de mata secundária.
Warren Dean (2004) comenta que sucessivos ciclos econômicos marcaram a exploração e degradação da Mata Atlântica após 1500. Inicialmente, esses ciclos se limitaram às atividades extrativistas, com destaque para a exploração do pau-brasil. Posteriormente, houve uma progressiva derrubada das áreas florestadas para dar lugar ao cultivo de espécies exóticas, principalmente a cana-de-açúcar, que desempenhou um papel central na economia colonial. O agravamento da devastação da Mata Atlântica ocorreu com a descoberta de depósitos de ouro e diamante em seu interior, resultando na transformação de partes da floresta original em uma "região desmatada e árida". Vale mencionar que a predominância da cultura do café, assim como a extração desenfreada de Erva-mate, desempenhou um papel relevante, pois, acabou contribuindo para a destruição de partes da floresta que anteriormente permaneciam intocadas.
O historiador ambiental norte-americano também destaca que o ritmo de agressão à floresta ganhou significativa aceleração a partir do início do século XX, impulsionado por diversos elementos, tais como o aumento exponencial da população, a intensificação do extrativismo predatório e a adoção das práticas de monocultura e pecuária.
Por fim, é interessante analisar como um fenômeno natural, que carrega um processo histórico tão marcante, quanto a Mata Atlântica, também surge como um mecanismo modificador das relações políticas e territoriais de uma região. Isto nos mostra como a interação entre ciclos econômicos, mudanças de poder político e pressões demográficas aceleraram a degradação da Mata Atlântica ao longo dos séculos A história da Mata Atlântica é um lembrete do impacto humano no meio ambiente e da urgência em adotar práticas sustentáveis para garantir a sobrevivência desse bioma e a biodiversidade que ele abriga.
Referências
ALBUQUERQUE, José Lindomar Coelho. Fronteiras em movimento e identidades nacionais: a imigração brasileira no Paraguai. 2005.
DEAN. Warren. A segunda leva de invasores humanos. In. _____. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira. São Paulo. CIA. das Letras. 2004
https://www.mercosur.int/pt-br/temas/sistema-de-informacao-ambiental-do-mercosul-siam/
Luann Henrique, discente do curso de História – Licenciatura da Unila
Revisão: Rosangela de Jesus Silva, professora da área de História da Unila.