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Haroldo Alvarenga: múltiplas faces de um artista iguaçuense

Você repara na cidade em que vive? Por acaso diferencia as várias formas de expressões presentes no meio urbano? Já visualizou e percebeu a quantidade de monumentos que possui no município?

Se você é de Foz do Iguaçu, provavelmente ficou com dificuldade em dizer um número real na última pergunta. Isso se deve principalmente por conta da prática de valorização cultural ser recente no dia-a-dia do iguaçuense. Esse tipo de prática patrimonial, entrou em discussão há pouco tempo na gestão municipal e auxiliam no descobrimento de novos olhares para a cidade, ou seja, por meio dos imóveis, esculturas, pinturas e expressões que contém uma mensagem e uma história, tanto do objeto em si, como também do cidadão por trás.

Desta forma, o presente texto tem como objetivo apresentar um dos grandes artistas plásticos de Foz do Iguaçu, que dá nome a recente estação cultural internacional Haroldo Alvarenga no centro da cidade.

Alvarenga esteve presente em múltiplas frentes culturais da região, como a música, produzindo canções e sendo organizador do Coral Municipal, além de realizar várias obras em esculturas. Alcançou notoriedade internacional, expondo na França, Estados Unidos e China, também realizou diversas atividades ao longo de sua vida, como controlador de voo, professor, músico, artista plástico e diretor cultural.

Figura 1: Alvarenga na Sala de Rádio e na sacada da varanda do APNI.

Fonte: Banco Digital de Imagens do Espaço de Memória do GRESFI.

TRAJETÓRIA PESSOAL

Nascido em Taubaté no ano de 1945, veio para Foz do Iguaçu em 1968, onde faleceu em 2013, aos 68 anos de idade. Foi casado com Leila Alvarenga, que ainda se mostra grande admiradora do legado do marido. Veio para o município trabalhar como controlador de voo no novo aeroporto da cidade, o Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu. Porém como a torre de controle ainda não estava pronta, atuou em seus primeiros anos no antigo Aeroporto do Parque Nacional do Iguassú (APNI), na estação radiotelegráfica, onde chegou a morar por dois anos seguidos no segundo piso do prédio (BECKER, 2022).

A esposa Leila, em uma entrevista à revista municipal intitulada “100 Fronteiras” destacou as várias faces artísticas de seu marido:

Haroldo era um artista múltiplo. Desde a adolescência era compositor. Chegou a fazer aulas de musicista em Taubaté, mas apesar de ter feito sucesso com a música Vale das Borboletas, seu principal legado foi com as artes plásticas, onde ele trabalhou produzindo esculturas de ferro (REVISTA 100 FRONTEIRAS, 2020).

A canção Vale das Borboletas, começou a ser composta em 1968, quando tinha apenas 23 anos, momento em que descobriu que seria transferido de Porto Alegre para Foz do Iguaçu. Buscou informações na biblioteca sobre o local que estava sendo encaminhado e ficou impressionado com a lenda das Cataratas e suas versões, adaptando seus versos ao longo do tempo e finalizando em 1983. Haroldo chegou a apresentar a música no Programa Flávio Cavalcanti na Rede Tupi, atual SBT (HAROLDO ALVARENGA, 2022).

Pode-se notar que o talento musical de Haroldo esteve presente durante toda sua vida, onde o mesmo foi fundador do coral e da orquestra da cidade. Entretanto, seu maior destaque foi em obras de arte, onde esculpia em ferro, aço e bronze, produzindo obras para o município, amigos e empresas, tendo exposições no Brasil e exterior.

Fora do Brasil Haroldo fez sucesso, expondo duas vezes em Middletown, Ohio, EUA (1984 e 2001), e na França (1986), em Enghien-les-Bains. Seu último grande trabalho, realizado entre 2008 e 2010, foi em Hangzhou, na China, expondo um conjunto de obras que esteve instalada no Centro de Estudos Experimentais na cidade (figura 2).

Figura 2: Obras feitas para a China.

Fonte: Revista 100 Fronteiras (2020).

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL E LEGADO MUNICIPAL

Haroldo se aposentou na Aeronáutica, mas ao longo de sua vida realizou diversas atividades, sendo poeta, músico, artista plástico, compositor e professor de inglês, francês, espanhol e educação artística. Foi diretor de cultura na Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, criando projetos como a Orquestra Municipal, Coral, Mulher Arte e Poesia, e Arte de Fazer Violinos. Em 1975, fundou com outros artistas a Associação Cultural de Artistas Plásticos do Iguaçu (ACAPI), realizando exposições culturais na cidade.

Alvarenga foi autodidata na arte, música e em aprender idiomas, sempre pesquisando e estudando diversos tipos de artes para assim desenvolver sua própria visão artística sobre o mundo (figura 3).

Figura 3: Haroldo fazendo suas esculturas de aço

Fonte: Revista 100 Fronteiras (2020).

Figura 4: Leila Alvarenga ao lado da escultura Naipi e Tarobá (feita em aço-carbono e sucata enobrecida).

Fonte: Revista 100 Fronteiras (2020).

Figura 5: Variações de tamanho das obras de Alvarenga.

Fonte: Revista 100 fronteiras (2020).

Figura 6: Esculturas coloridas.

Fonte: Revista 100 fronteiras (2020).

OBRAS NA CIDADE

Dentro da torre de controle do antigo Aeroporto do Parque Nacional de Iguassú, localizado no centro da cidade, de propriedade atual do Clube GRESFI, encontram-se guardadas quatro esculturas do artista plástico, sendo dois modelos de aviões e dois monumentos antropomórficos. Todos objetos trabalhados em metal e medindo cerca de 30 centímetros. Cabe destacar que uma delas faz referência ao 14 bis, primeiro avião inventado por Santos Dumont (figura 7).

Existem diversas obras de grande porte espalhadas pelo município, de propriedade pública e privada, como por exemplo as esculturas no Hotel Carimã, o monumento ao Rotaract Club, no SESC e até mesmo em uma clínica odontológica. Recentemente estão expostas algumas esculturas na Estação Cultural Haroldo Alvarenga, no centro da cidade (Figura 8).

Figura 7: Esculturas encontradas no APNI. 

Fonte: Marcos Moraes de Mendonça (2023).


Figura 8: Escultura de grande porte localizada na cidade de Foz do Iguaçu.

Fonte: Site Haroldo Alvarenga em Memória (2016).


É de se notar que Foz do Iguaçu, está trilhando o caminho da salvaguarda de sua trajetória por meio dos trabalhos de tombamento de imóveis e paisagens, porém é fundamental compreender que é dever de todos os cidadãos manter e fiscalizar os patrimônios presentes no município.

Partindo do princípio de ação conjunta entre o poder público e a sociedade, é de suma importância que o cidadão comum tenha conhecimento da sua história e das diversas memórias relacionadas ao desenvolvimento urbano. Essas informações são ferramentas fundamentais para justificar uma luta de preservação da memória local.

Por fim, o texto buscou trazer ao conhecimento geral um pouco da história de um dos grandes artistas da cidade, de forma em que se tenha noção das variedades de produções e ações ao longo de sua vida.

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, H. C. Vale das borboletas. Foz do Iguaçu, 1983. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4o452yQ6Ruk&ab_channel=halvarenga. Acesso em: 26 de outubro de 2024.

BECKER, Rosângela dos Santos. Memória e Patrimônio: A partir do Aeroporto do Parque Nacional do Iguassú. Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção de título de Bacharel em Antropologia, Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Foz do Iguaçu, 2022.

HAROLDO ALVARENGA. [Site Pessoal]. Disponível em: https://haroldoalvarenga.wordpress.com/vale-das-borboletas/. Acesso em: 26 de outubro de 2024.

REVISTA 100 FRONTEIRAS. Haroldo Alvarenga: um ícone artístico de Foz. Dezembro de 2020. Disponível em: https://100fronteiras.com/foz-do-iguacu/noticia/haroldo-alvarenga-um-icone-artistico-de-foz/. Acesso em: 26 de outubro de 2024.

Marcos Moraes de Mendonçaegresso do curso de licenciatura em História na UNILA. 

Revisão: Rosangela de Jesus Silva, professora da área de História na Unila



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