Pular para o conteúdo principal

PROCESSOS HISTÓRICOS TRAUMÁTICOS: DEVE HAVER LIMITES PARA LEMBRÁ-LOS? PARTE II.

            “Debates semelhantes ocorreram após a queda das últimas ditaduras militares na América Latina. Anistia geral, irrestrita, incluindo os militares, ou apenas para os perseguidos políticos? O debate continua principalmente na Argentina, em virtude do elevado número de desaparecidos políticos e pela forte atuação de entidades como as Mães da Praça de Maio, associação liderada por familiares de perseguidos pela ditadura. Em 2006, o golpe fez 30 anos, a data (24 de março) virou feriado e o lema dos principais movimentos sociais argentinos neste dia foi, justamente, “Não haverá perdão”. As Mães da Praça de Maio e outras entidades são responsabilizadas por alguns setores da sociedade argentina pela manutenção de tensões políticas. Segundo esses setores, essas entidades, paradoxalmente, alimentariam a extrema direita que, temendo punições referentes ao período militar, se manteria articulada. Por exemplo, em 2006, o argentino Jorge Julio López, testemunha de acusação no julgamento de um militar acusado de genocídio, desapareceu sob circunstâncias desconhecidas. Sobre a “instrumentalização da vergonha com fins contemporâneos”, a presidente chilena Michelet [sic] Bachelet inaugurou em 2010 um museu dedicado às vítimas da ditadura Pinochet às vésperas de uma acirrada eleição presidencial.
Como destacamos, trata-se um debate antigo, que se articula em torno de dois pontos principais. O ressentimento pode unir um grupo e ajudá-lo a se afirmar? Ou o ressentimento paralisa os indivíduos e os grupos? O ressentimento, quando exteriorizado, ajuda a superar ou alimenta ódios? Nietzsche já destacava a necessidade de equilíbrio entre a memória e o esquecimento dos ressentimentos. Para Nietzsche, o esquecimento não deve ser imposto, tampouco é um processo inevitável, mas seria uma escolha, uma opção, o reivindica como um direito, pois a memória como dever condenaria os indivíduos e grupos a repetirem incessantemente a experiência lembrada. A memória viraria uma “prisão”. O nazismo, por exemplo, não se alimentou do ressentimento que se propagou entre os alemães após a derrota na Primeira Guerra Mundial?” (SILVA, Paulo Renato da. Memória, História e Cidadania. Cadernos do CEOM, Chapecó, SC, ano 23, número 32, jun. 2010, p. 343-344).
Aqui encerramos esta primeira reflexão sobre a memória de processos históricos traumáticos.
Leia artigo completo em:
<http://apps.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/viewFile/682/443>.
            Prof. Paulo Renato da Silva.

Postagens mais visitadas deste blog

A "Primavera dos Povos" na Era do Capital: historiografia e imagens das revoluções de 1848

  Segundo a leitura de Eric J. Hobsbawm em A Era do Capital , a Primavera dos Povos foi uma série de eventos gerados por movimentos revolucionários (liberais; nacionalista e socialistas) que eclodiram quase que simultaneamente pela Europa no ano de 1848, possuindo em comum um estilo e sentimento marcados por uma atmosfera romântico-utópica influenciada pela Revolução Francesa (1789). No início de 1848 a ideia de que revolução social estava por acontecer era iminente entre uma parcela dos pensadores contemporâneos e pode-se dizer que a velocidade das trocas de informações impulsionou o processo revolucionário na Europa, pois nunca houvera antes uma revolução que tivesse se espalhado de modo tão rápido e amplo. Com a monarquia francesa derrubada pela insurreição e a república proclamada no dia 24 de fevereiro, a revolução europeia foi iniciada. Por volta de 2 de março, a revolução havia chegado ao sudoeste alemão; em 6 de março a Bavária, 11 de março Berlim, 13 de março Viena, ...

A perspectiva na pintura renascentista.

Outra característica da pintura renascentista é o aprimoramento da perspectiva. Vejamos como a Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais se refere ao tema: “Técnica de representação do espaço tridimensional numa superfície plana, de modo que a imagem obtida se aproxime daquela que se apresenta à visão. Na história da arte, o termo é empregado de modo geral para designar os mais variados tipos de representação da profundidade espacial. Os desenvolvimentos da ótica acompanham a Antigüidade e a Idade Média, ainda que eles não se apliquem, nesses contextos, à representação artística. É no   renascimento   que a pesquisa científica da visão dá lugar a uma ciência da representação, alterando de modo radical o desenho, a pintura e a arquitetura. As conquistas da geometria e da ótica ensinam a projetar objetos em profundidade pela convergência de linhas aparentemente paralelas em um único ponto de fuga. A perspectiva, matematicamente fundamentada, desenvolve-se na Itália dos sécu...