Dando prosseguimento ao debate, vejamos a posição do historiador chileno Héctor Bruit sobre os povos originários diante da conquista da América. Bruit discorda da imagem passiva dos povos originários presente em autores como Miguel León-Portilla e destaca que houve resistências. Nas suas palavras, os povos originários simulavam diante dos europeus, o que teria melado o projeto colonizador:
“(...) seria possível um comportamento tão passivo, tão destituído de caráter, tão servil, por parte dos ameríndios perante a invasão de seus territórios?
(...).
Em outras palavras, a imagem acerca dos índios contém duas vertentes aparentemente contraditórias, mas que se juntam numa concepção surpreendente do processo histórico da conquista. Por um lado, os índios aparecem derrotados e conquistados com relativa facilidade, e sua passividade lhes tira a condição de sujeitos ativos e centrais do processo, ficando assim fundada a idéia de que o processo social do continente, já desde o início de sua modernidade, foi feito pelas minorias. No entanto, a idéia da simulação nos apresenta uma maioria que age por vias diferentes das comuns, que resiste silenciosamente à dominação e acaba distorcendo o processo como um todo.
(...).
(...). Desta maneira, podemos recuperar, como formas históricas da resistência indígena à invasão, fenômenos sociais como a embriaguez, a indolência, a mentira, etc.
O que mais chama a atenção em todo esse processo da conquista americana é a atitude dos indígenas em relação ao cristianismo. Documentos diversos atestam que os índios simulavam ser cristãos por meio dos significados das formas, rituais e gestos da nova religião, mas no fundo a simulação lhes permitia encobrir suas crenças idolátricas.” (BRUIT, Héctor Hernan. Bartolomé de las Casas e a Simulação dos Vencidos: ensaio sobre a conquista hispânica da América. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; São Paulo: Iluminuras, 1995. p. 14-16).
A discussão continua na próxima postagem.
Prof. Paulo Renato da Silva.