O historiador e paleógrafo francês Serge Gruzinski é um dos principais nomes da historiografia sobre a conquista e os povos originários. Sinteticamente, o autor considera que o resultado da conquista foi o nascimento de uma sociedade mestiça. Vejamos, por exemplo, o que Gruzinski escreve sobre a festa de Corpus Christi em Cuzco, no Peru, em 1555 e sobre um dos hábitos adquiridos pelos espanhois na América:
“As etnias desfilavam cantando em sua língua [grifo meu] hinos outrora dirigidos ao Sol, e presentemente destinados ao deus dos espanhóis. Passando diante dos membros do clero, reunidos num estrado, o chefe de cada um dos grupos lhes agradecia por lhes terem ensinado o catecismo. Depois, os índios galgavam os degraus que subiam até o cemitério, a fim de honrar os mortos do ano, uma maneira cristã de reatar com o [antigo] culto dos ancestrais [grifo meu].” (BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge. História do Novo Mundo. São Paulo: EDUSP, 2006. v. 2. p. 43-44).
“O uso índio dos psicotrópicos difundiu-se amplamente na Nova Espanha no início do século XVII entre os mestiços, os mulatos e os espanhóis que vivem em contato com comunidades indígenas, em paragens isoladas ou regiões fortemente hispanizadas. Essa propagação exemplifica uma mestiçagem ao inverso, pois são não-índios que “se indianizam”. (op. cit., p. 370).
Prof. Paulo Renato da Silva.