Na postagem de hoje, apresentamos a nossas(os) leitoras(es) materiais para a aproximação com temas da história da alimentação na Ásia. Como sempre, é um convite à exploração. Dessa forma, o nosso percurso não esgota os recursos existentes - na internet ou publicados em forma impressa.
Começamos com uma edição especial da revista Estudios de Asia y África, intitulada Culturas culinarias: comida y sociedad en Asia y África. O volume organizado pela historiadora indiana Ishita Banerjee aborda, de um ponto de vista interdisciplinar, diferentes facetas das relações sociais estabelecidas em torno da alimentação em regiões da Ásia e da África, em períodos distintos da história. De particular interesse para os temas cobertos por nosso blog são os artigos Menús modernos: comida, familia, salud y género en Bengala colonial, de Ishita Banerjee, e Mem y cookie: La cocina colonial en Malasia y Singapur, de Cecilia Leong-Salobir. Destacamos estes estudos sobre o Sul e o Sudeste Asiático pelas interessantes possibilidades de análise que abrem no que se refere a relações de dominação colonial, com foco também em relações de gênero. Podemos acompanhar ali o estudo de fontes históricas como livros de receitas, colunas sobre alimentação em jornais, manuais domésticos, diários, livros de viagem e publicações de historiadores coloniais sobre alimentação.
Tendo como referência o Leste da Ásia, podemos escutar o podcast da Japan House de São Paulo, que, em sua segunda temporada, aborda o tema da Gastronomia. Os episódios foram organizados a partir de técnicas culinárias – como, por exemplo, o corte, a fermentação, o cozimento etc. A história das técnicas, de alimentos e de cozinheiros residentes no Brasil (de origem japonesa ou não) aparece ao longo dos programas de forma leve e interessante. Neste contexto, ganham destaque as conexões entre Japão e Brasil, seja por meio da imigração japonesa a distintas regiões do País, seja por meio do interesse de brasileiros pela gastronomia japonesa e por possíveis hibridações entre as culinárias regionais japonesas e brasileiras. O canal da Japan House no YouTube também hospeda o podcast, além de armazenar vídeos com receitas relacionadas aos episódios desta segunda temporada. Por exemplo, é possível aprender em um dos vídeos sobre a prática de Mottainai – ou seja, de evitar o desperdício – por meio da fermentação.
Imagem disponível em: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788539307753,mil-e-uma-noites-mil-e-uma-iguarias-2-edicao. Acesso em: 26/05/2021
Chegando ao Oriente Médio, temos, por fim, a indicação de dois livros que mesclam história e culinária árabe. O primeiro deles é Mil e uma noites, mil e uma iguarias, escrito pela historiadora da alimentação Rosa Beluzzo. A obra aborda paralelamente as dimensões ficcional e histórica da gastronomia presente no famoso livro Mil e uma noites, com uma seção dedicada a receitas que podem ser reproduzidas pelas(os) leitoras(es). O segundo livro, intitulado Receitas árabes tradicionais do Norte do Líbano, relaciona história e alimentação de um modo distinto do primeiro. O registro das receitas originárias do Norte do Líbano foi realizado por mulheres cujas famílias imigraram daquela região libanesa ao Brasil. É possível, dessa forma, conhecer um pouco da trajetória de vida das autoras, bem como aprender a preparar os pratos que suas famílias cozinham há gerações.
Referências e sugestões
de leitura:
BANERJEE, I. Culturas culinarias:
comida y sociedad en Asia y África. Estudios de Asia y África, v. 50. n.3, 2015.
BELUZZO,
R. Mil e uma noites, mil e uma iguarias.
São Paulo: Editora Unesp, 2018.
YAZBEK, M. H.; ABRAHÃO,
S. D. Receitas árabes tradicionais do
Norte do Líbano. Rio de Janeiro: Revan, 2015.
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migração e alimentação
La receta de la gastrodiplomacia: conquistando el paladar desde Asia
Mirian Santos Ribeiro de Oliveira, professora de História da Ásia da UNILA