A
preocupação em estabelecer uma casa permanente para uma coleção até então
itinerante está na origem do Museo del Barro, localizado próximo à Avenida
Aviadores del Chaco, em Asunción, capital do Paraguai. Em 1972, os artistas Olga
Blinder (1921-2008) e Carlos Colombino (1937-2013) criaram a “Colección
Circulante”, composta inicialmente por desenhos e gravuras, um acervo que
expunham em instituições educativas e espaços públicos. Blinder e Colombino
transitavam por várias formas de arte, como pintura, escultura e escrita, além
de ser a primeira educadora, e o segundo, arquiteto. A ampliação do escopo de
sua coleção, ao incluir pinturas, objetos, esculturas e instalações, levou seus
organizadores a buscarem um espaço fixo.
A
primeira edificação (projetada por Colombino) começou a ser construída em 1979.
De 1980 a 1983 o museu esteve em San Lorenzo, passando a Asunción neste último
ano. A partir de 1988, instalou-se definitivamente no Centro de Artes Visuales
(CAV), no bairro de Isla de Francia, na capital paraguaia. O museu teve
dificuldades para se formar nos anos 1970 e 1980, últimas décadas da ditadura
de Alfredo Stroessner (1954-1989), de pouco apoio à
cultura e perseguição a artistas. Logo após o fim da ditadura, o museu recebeu
apoio do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005), amigo de Carlos
Colombino e do curador,
professor e crítico de arte Ticio Escobar (1947-), um dos principais
responsáveis pela seção de arte indígena do museu. Roa Bastos ganhou o Prêmio
Cervantes em 1990, e fez incluir o “Museo del Barro” na agenda de visita dos
reis da Espanha a Asunción em outubro de 1990. Pós-Stroessner, o museu ainda
sofreu com um tornado, que destruiu parte de suas instalações e obrigou-o a um
fechamento por dois anos, entre 1993 e 1995.
O
“Museo del Barro” abriga uma rica coleção de cerâmica popular, em especial Ita
e Tobatí (denominações que remetem às localidades de origem da produção), além
do “Museo Paraguayo de Arte Contemporáneo” e do “Museo de Arte Indígena”, com
mais de 1750 peças fabricadas por membros dos variados grupos étnicos do
Paraguai. Quase 90% do acervo de peças indígenas foi adquirido por Ticio
Escobar.
Além
dos acervos permanentes, o museu abriga exposições temporárias, como “El sueño
de una noche de verano”, da artista Nury González. A exposição, que esteve
aberta ao público entre novembro e dezembro de 2015, teve como mote os 40 anos
do acordo que instituiu a “Operação Condor” no Cone Sul, uma cooperação entre
as ditaduras de Argentina, Brasil, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai para
captura, tortura e execução de opositores políticos desses regimes, operação
que vitimou dezenas de milhares. A artista Nury González produziu, nesse tema,
um conjunto de obras tratando das questões do exílio e do desaparecimento,
utilizando-se, por exemplo, da figura do “fio” (“el hilo”) para tratar das
trajetórias perdidas e violentamente interrompidas naquele contexto. Alunos e
professores do curso de História da UNILA puderam visitar essa exposição, além
do acervo permanente do museu, em saída de campo realizada em novembro de 2015.
Entrada do Museo del Barro. Foto: Profa. Rosangela de Jesus Silva
Acervo do Museo del Barro. Foto: Profa. Rosangela de Jesus Silva
Acervo do Museo del Barro. Foto: Profa. Rosangela de Jesus Silva
Professores e estudantes da UNILA em visita ao Museo del Barro. Foto: Profa. Rosangela de Jesus Silva
O
site do “Museo del Barro” possui informações sobre sua história, acervos e
calendário de exposições (http://www.museodelbarro.org/). O museu possui também um blog: http://www.museodelbarro.org/blog.
Prof. Pedro Afonso Cristovão dos Santos.